A seca tem solução: poupança e uma boa gestão!
A Holanda e o Israel se destacam por terem optado pelo caminho de inovações tecnológicas para resolver os desafios de “garantir água e saneamento para quase todos” nestes países, e exportarem seu conhecimento e tecnologias para outros países.
A África atualmente, e principalmente a região Austral onde Moçambique se encontra está a enfrentar secas muito sérias.

De modo a lidar com estas ameaças é importante levar em consideração as tecnologias de bases de dados distribuídas (distributed ledger/ blockchain) e os avanços nas técnicas da inteligência artificial, uma vez que ambas detêm um grande valor para se tornarem a espinha dorsal das “oportunidades de modernização da gestão dos sistemas de abastecimento de água e saneamento” com soluções baseadas nas novas tecnologias para transformar completamente o sector, se estas forem bem capitalizadas.
Moçambique não está tão atrasado como muitos podem pensar!
Quando a Holanda e o Israel embarcaram nas inovações tecnológicas para resolver os desafios de água e saneamento nos seus países e no estrangeiro, estas e outras inovações e descobertas de novos materiais como é caso do grafeno, com aplicações no tratamento da água a um custo bastante reduzido e no armazenamento de energia não existiam.
Portanto, tanto os inovadores tecnológicos Moçambicanos, Holandeses, Israelitas e outros, estão a começar “na mesma página” nesta nova realidade de inovações para o presente e futuro do sector de águas e saneamento, numa altura em que já “existem sensores de baixo custo”, novas tecnologias de redes de sensores sem fio, processadores dedicados à inteligência artificial e bases de dados distribuídas e novos materiais e técnicas de construção e reparação de tubagens e infraestruturas relacionadas – mais baratas, eficientes e eficazes para resolver os desafios de água potável e saneamento.
É nesta perspectiva que, como Moçambicanos, não devemos continuar a pensar que “tudo o que é electrónico, conectado, inteligente” – é inovação apenas de lá fora! e acreditar que não há conhecimento e capacidade de inovação a nível local, para resolver os nossos problemas de água e saneamento a um custo acessível, e modelo de negócio mais apropriado para a nossa realidade e contexto.
A existência actualmente de “sensores de baixo” pode ser aproveitada de formas criativas, inovadoras e ao menor custo por inovadores tecnológicos Moçambicanos e outros , para modernizar os actuais sistemas e implementar novos sistemas de abastecimento de água e saneamento em Moçambique que “sejam sistemas de água e saneamento inteligentes”.
Há necessidade de modernizar os actuais e futuros sistemas, com tecnologias novas e inteligentes, porque os “gestores” dos sistemas de abastecimento e saneamento e os clientes e consumidores precisam informações para tomarem as melhores decisões.
A modernização dos sistemas, com a implantação na rede de “sensores inteligentes” de baixo custo, para permitir detectar e localizar fugas de água e a introdução da leitura automatizada de contadores e aplicações móveis para todo tipo de “celulares” – para permitir que os clientes e consumidores monitorem seu consumo de água em tempo quase real, e efetuem pagamentos por períodos de facturação variáveis e curtos vai permitir aos clientes estarem mais cientes do seu consumo, saberem quanta água estão a usar e quanto em dinheiro estão a gastar, isso pode influenciar na mudança de comportamento, para passarem a poupar água e os pagamentos vão se tornar mais apropriados para a maior parte dos consumidores de baixa renda (80% dos clientes e consumidores).
A comunicação com os clientes e consumidores e padrões de qualidade serão necessários para a adopção massiva de sistemas inteligentes de água nas grandes cidades (sistemas da FIPAG), nas vilas e pequenas cidades (sistemas da AIAs) e nos sistemas de saneamento geridos ou a serem geridos por municípios e os que estão sob a alçada da AIAS e pelos fornecedores privados de água (FPAs).
Os sistemas inteligentes de água e saneamento vão aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e aumentar a sustentabilidade técnica e financeira dos sistemas. Pelo facto de estarem conectados, de forma permanente, estes sistemas vão permitir a disponibilização de novos serviços de valor acrescentado aos clientes pelas entidades detentoras ou gestoras de sistemas de abastecimento de água, que não são possíveis agora, gerando novas fontes de receitas que vão permitir aumentar a sustentabilidade financeira dos sistemas.
Para os clientes, os sistemas inteligentes de água e saneamento vão permitir maior envolvimento dos clientes, graças ao uso das novas tecnológias de informação e comunicação e aplicativos que vão trazer aos clientes funcionalidades para monitorar e controlar seu consumo de água, efetuar pagamentos a qualquer momento, pela facilidade da facturação por períodos variáveis e curtos que será possível através do uso de plataformas baseadas nas novas tecnologias.
O mundo mudou tanto nos últimos tempos, tudo o que é preciso para a implementação destas inovações de modernização dos sistemas está disponível e acessível. Trata-se sobretudo de engenharia de conhecimentos, desenho e implantação e gestão de projetos de modernização em parceria com aos potenciais clientes (FIPAG, AdeM, AIAs, FPAs) mediante novos modelos de negócios que não envolvem custos de investimento em capital por parte das entidades detentoras ou gestoras dos sistemas de abastecimento de água – designado “servitização” – modelos mais sustentáveis, gerando ganhos para o meio ambiente, entregando mais valor para o cliente.
Neste modelo, a empresa de alta tecnologia, arca com todo o investimento em melhorias de modernização (sensores, software inteligente, dispositivos de controlo, contadores inteligentes, detecção, localização e reparação de fugas, etc) – como um pacote de serviços completo, e em contrapartida, recebe pelos serviços prestados ao cliente, uma percentagem pequena do valor pago pelos clientes por cada metro cubico de água facturado e pago (taxa de serviço).
Este modelo de negocio é também designado “Pague pelo usufruto” (PSS).
A Rolls–Royce, por exemplo, disponibiliza suas turbinas de avião em um modelo PSS em que as companhias aéreas pagam por hora de voo.
As empresas de alta tecnologia , com a capacidade de modernizar os sistemas querem adotar um novo modelo de negócio de seus produtos e sistemas tornar os sistemas de abastecimento de água e saneamento inteligentes.
As vendas tradicionais podem ser substituídas por um sistema comercial no qual as empresas mantêm a posse dos sensores, software inteligente, dispositivos de controlo, contadores inteligentes, cuidam de sua manutenção e garantem seu funcionamento, e o cliente paga por usufruir as funções proporcionadas pelo “sistema modernizado e inteligente”.
É o sistema produto-serviço, da sigla PSS, product-service system, também conhecido como product as a service ou servitização.
Autor: Abel Viageiro, empreendedor tecnológico
email: abel.viageiro@gmail.com